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'Sentimento de impotência', lamenta pai de vítima do incêndio no Ninho do Urubu após absolvição dos réus

“Sentimento de impotência, de ser ninguém, de ser um lixo, de não ter valor de vida. Como morrem 10 crianças e ninguém é responsabilizado? Não podemos deixar assim”. O relato de um pai emocionado mostra a revolta de familiares das vítimas do incêndio no Ninho do Urubu, em 2019, com a absolvição dos sete réus no processo. A decisão foi decretada pela Justiça do Rio nesta terça-feira (21).
O juiz Tiago Fernandes de Barros, da 36ª Vara Criminal da Comarca da Capital, pontuou que não houve provas suficientes de que os acusados contribuíram de forma direta para o incêndio. O magistrado destacou que não pode responsabilizar criminalmente alguém apenas em razão do cargo que ocupava, sem ter comprovação efetiva de sua ação ou omissão determinante para o resultado.
“O sentimento é de que a justiça não está sendo feita. Sensação de impunidade, de não ter valor às nossas vidas. Acho que as coisas não deveriam acontecer dessa forma. Alguém teria que ser responsabilizado. Vai demorar mais um ano, meses, sei lá, mas não deixem dessa forma. Outras tragédias vão acontecer. Nós
queremos que sirva para alguma coisa, de exemplo para outras entidades e clubes que não podem agir dessa forma, para que exista um planejamento de como os atletas vão ter seu dia a dia. Queremos a responsabilização e a cobrança dos órgãos públicos”, demandou.
Natural de Santa Catarina, Bernardo se mudou para o Rio de Janeiro para viver o sonho de ser jogador de futebol profissional. O jovem encontrou o caminho no Flamengo como goleiro da base.
“Quando entregamos os nossos filhos ao Flamengo, sob a responsabilidade deles de cuidar e formar atletas, fomos muito seguros. Aí acontece a tragédia e ninguém é responsável. Não sou advogado, nem jurista. Sou pai de uma vítima, de uma criança. Um pai de uma família fragilizada pela perda do filho de 14 anos, que seguia um sonho encaminhado. Como podemos deixar isso assim? Temos que ter a responsabilização de alguém. Não podemos deixar isso como normal”, questionou Darlei.

“Vazio e silêncio”

“Há mais de seis anos, vivemos o vazio e o silêncio deixados pela morte do nosso filho — um menino cheio de vida, sonhos e esperança. Ele acreditava no futebol, acreditava no Flamengo, acreditava que seu talento e o esforço o levariam longe. Hoje, nós sentimos que a justiça falhou com os nossos filhos mais uma vez. Cada absolvição é uma ferida reaberta, uma lembrança cruel de que, para muitos, eles já foram esquecidos. Mas para nós, pais e mães, o tempo não cura, e a luta não acaba”, lamentou a família.
Os pais do adolescente, que era capitão do sub-15 Rubro-Negro e natural de Minas Gerais, aguardam com esperança a revisão da determinação.
“Seguiremos em frente, com fé e coragem, porque nossos filhos merecem justiça. E porque acreditamos que o Tribunal, ao rever essa decisão, poderá corrigir essa injustiça e honrar a memória dos 10 meninos que só queriam jogar bola. Eles tinham sonhos. E nós continuaremos lutando por eles”, afirmaram.
Em postagem nas redes sociais, Andreia Oliveira, mãe do goleiro Christian Esmério, 15 anos, foi mais uma mãe que contestou a decisão. “A justiça do Brasil é verdadeiramente uma vergonha. Só existe para os poderosos. Vergonha, revolta e incredulidade. Eu ainda tinha fé que dessa vez seria diferente”, escreveu.

Recurso
O Ministério Público do Rio (MPRJ) afirmou, nesta quarta-feira (22), que irá recorrer da decisão do TJRJ. O incêndio, ocorrido em fevereiro de 2019, no Centro de Treinamento Presidente George Helal, em Vargem Grande, Zona Sudoeste, matou 10 adolescentes e deixou outros três feridos.
Em maio, a Promotoria de Justiça vinculada à 36ª Vara Criminal da Capital pediu a condenação dos acusados destacando que o incêndio poderia ter sido evitado, não sendo um acidente, mas sim um resultado direto da conduta dos envolvidos.
De acordo com o órgão, os acusados tinham conhecimento que o local funcionava de forma irregular, sem autorização oficial e sem o certificado do Corpo de Bombeiros. Mesmo com várias multas e interdições, o Ninho do Urubu continuava em atividade.
O MPRJ destacou que havia problemas elétricos e falta de manutenção nos aparelhos de ar-condicionado do alojamento. O fogo teria iniciado dentro de um desses equipamentos. Além disso, o órgão apontou diversas falhas graves nos contêineres usados como dormitórios, como: janelas com grades; portas de correr que travaram durante o incêndio; apenas uma saída, localizada longe do quarto onde todos os adolescentes morreram; ausência de um sistema de combate a incêndio; e materiais altamente inflamáveis.
Os réus respondiam por incêndio culposo. Foram absolvidos: Antônio Márcio Mongelli Garotti, ex-diretor de Meios do Flamengo; Marcelo Maia de Sá, ex-diretor adjunto de Patrimônio (Obras); Edson Colman da Silva, sócio proprietário da empresa que fazia a manutenção dos ares-condicionados do alojamento; Fábio Hilário da Silva, engenheiro elétrico da NHJ, companhia responsável pelos contêineres; Cláudia Pereira Rodrigues, diretora Administrativa e Comercial da NHJ; Weslley Gimenes, engenheiro civil da NHJ; e Danilo da Silva Duarte, engenheiro de produção da NHJ.
Parte dos demais denunciados já havia sido excluída do processo em fases anteriores. Em fevereiro, a punibilidade de Eduardo Carvalho Bandeira de Mello, então presidente do clube, foi extinta em razão do tempo transcorrido. A Justiça do Rio já tinha retirado da ação o ex-diretor de base do Flamengo, Carlos Noval, e o engenheiro Luiz Felipe Pondés, pois julgou que as provas contra eles não eram suficientes, e absolvido o monitor Marcus Vinicius Medeiros.




22/10/2025 – Juventude FM

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